Raios-X revelam misterioso componente do cabelo humano

Um componente novo e surpreendente do cabelo humano acaba de ser descoberto, de acordo com pesquisa recentemente apresentada na reunião anual da American Association Crystallographic. Notavelmente, é uma descoberta que poderia levar a melhores produtos de cabelo.

Acima: Uma imagem de microscopia eletrônica de uma seção transversal do cabelo humano. A região superior mostra a parte externa do fio de cabelo (cutícula). A parte inferior mostra as “macrofibrilas” internas existentes na região do córtex. (Fabiano Emmanuel Montoro / LNNano, CNPEM)

O cabelo humano tem sido extensivamente estudado por décadas, mas até agora, uma compreensão completa da sua estrutura era elusiva.

“O cabelo tem sido tradicionalmente constituído de três regiões: medula (parte central do cabelo), córtex (a maior fração de volume do cabelo) e a cutícula (parte externa do cabelo),” disse a líder do projeto Vesna Stanic, uma cientista que trabalha no Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas, São Paulo.

“Nós descobrimos uma nova zona intermediária, que está entre a cutícula e o córtex”, acrescentou.

Stanic e sua equipe fizeram a descoberta através da combinação de um poderoso feixe submicron de raios-X com a geometria da seção transversal. O objetivo inicial era apenas estudar materiais utilizados em tratamentos de cabelo, e como eles afetam a sua estrutura. Enquanto isso, Stanic se perguntou sobre os padrões de difração do cabelo.

A difração é a dobra de ondas em torno dos obstáculos e aberturas. Padrões de difração de raios-X de um dado material podem, por conseguinte, revelar o arranjo de locais de ambas as estruturas moleculares e atômicas.

Padrões de difração do cabelo humano já foram documentadas antes, mas geralmente envolvia  apontar o feixe de raios-X perpendicular ao eixo da fibra capilar. Stanic e sua equipe decidiram fazer algo diferente.

“Fizemos um mapa de difração completo a partir de uma seção transversal de 30 microns de espessura de cabelo, com um feixe incidente paralelo ao eixo do cabelo, e, em seguida, comparamos com o mapa de difração com o raio perpendicular ao eixo do cabelo,” explicou.

Antes deste estudo, acreditava-se que o cabelo humano era composto apenas por uma proteína fibrosa chamada alfa queratina, bem como determinados minerais e lipídios. Os cientistas ficaram, portanto, extremamente surpresos ao descobrir que uma característica chave de difração de queratina alfa estava ausente na área entre a cutícula e o córtex de um fio de cabelo. O padrão correspondia à beta queratina.

Anteriormente, a beta queratina era associada com répteis e pássaros. É o que faz garras, bicos e penas fortes e resistentes e, no caso das penas, também flexíveis e elásticas.

Alfa e beta queratina são moléculas semelhantes, mas têm tamanhos e formas muito diferentes.

Como Stanic disse, “é importante conhecer a estrutura do cabelo a fim de entender como essa estrutura vai mudar com diferentes produtos”.

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